Cotidiano de uma brasileira em Paris, comentarios sobre cultura, politica e besteiras em geral. Entre le faible et le fort c'est la liberté qui opprime et la loi qui libère." Jean-Jacques Rousseau

Monday, May 3, 2004

Uh, meu teclado e' anglo, por isso nao tenho acentos...sorry.

Ah e'. Fim de semana. Sabado fomos ao Jardin de Plantes que se situa no sexto distrito da cidade, onde fica tambem o Quartier Latin. A primavera ja' comecou e os jardins estao absolutamente cheios de flores. Flores que nao conhecia, cujo os nomes sempre me foram familiares mas que nunca tive a oportunidade de os ligar ao visual. A causa dessa ignorancia que me pegou de surpresa e' muito simples: a minha nao e' uma cultura que festeja a mudanca de estacoes do ano, simplesmente porque nao as temos. Nao dessa maneira; presente, importante, com uma influencia no nosso humor, pensamentos, sentimentos, estado de espirito. `As vezes, ate mesmo a nossa inteligencia parece ser afetada por esse inverno duro, longo e impiedoso.
Pode parecer romantica essa opiniao, mas a cada nova primavera eu me dou conta de que e' apenas a realidade.
Aproveitando o dia ensolarado e -- pelo parametro europeu -- quente, saimos do Jardin de Plantes e decidimos ir direto a outro parque (de Bercy) dessa cidade que engana o nosso senso de dimensao, parecendo, ao mesmo tempo, pequena (pelo tamanho dos apartamentos, ruas, mesas de restaurantes, lojas, etc) e impossivelmente grande; pois numa cidadezinha pequena nao seria possivel ter essa quantidade de parques enormes.

Voltamos pra casa por volta das 6 da tarde, absolutamente exaustos apos termos andado aproximadamente 8 quilometros, com sede, com fome, suados, mas com a sensacao inigualavel de que algo de otimo foi visto/feito/vivido.

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Apos uma chuveirada rapida, um lanchinho e um cafezinho (brasileiro), fomos convidados `a casa de um dos primos do Julian, o Ludovic. Ele sempre vem aqui em casa porque ele mora num apartamento de 10 metros quadrados ou, para os sem senso de dimensao como eu, mais ou menos do tamanho da maior parte dos banheiros residenciais brasileiros.
O motivo da visita nao foi o de sempre, ou seja, bater um papo, tomar um drink, jogar xadrez ou outro jogo, etc. Acontece que Ludovic recentemente leu um livro chamado "Uma estacao de machadinhas" - "Une saison des machettes" Jean Hatzfeld - (desculpem-me pela traducao literal, mas eu nao sei o titulo em portugues) sobre o massacre em Rwanda nos anos 90.
Ele queria ler pra nos e para seu irmao Etienne, trechos desse livro, alem de trechos de um outro livro sobre o holocausto escrito por Primo Levi e, finalmente, uma carta escrita por ele, Ludovic, a ser enviada a um amigo dele, quem indicou o livro sobre o genocidio em Rwanda. Como ele ainda nao havia terminado a tal carta, so' leu alguns trechos, mas foi o suficiente pra concluir que ele tracou um paralelo entre o genocidio africano e o judeu.
Entre uma interrupcao e outra pude perceber que ele, como a maior parte dos franceses com quem tive contato ate' agora, sente um tipo de culpa sobre o que houve nao so' nas antigas colonias, mas tambem pela ocupacao Nazi da Franca durante a 2a. guerra.
Como nao tivemos tempo suficiente pra discutir o assunto a fundo porque tinhamos que sair pra jantar, ele ficou de me mandar via email essa carta quando ele terminar de escreve-la.

Trocando em miudos ele acha que mais deveria ter sido feito pela Franca pra evitar o massacre em Rwanda.

Em principio, nada contra.

Analisando melhor, constato que esse e' o tipo de indignacao da qual nasce um nojo de 'gente', depois uma raiva contra tais atos, seguida por uma tristeza profunda vinda diretamente da lembranca de que somos parte dessa raca ora podre, ora fascinate. Logico que gostaria que esse tipo de barbarie nunca existisse, que fossemos coletivamente bons, e `as vezes ate' acho que somos. O perigoso e' ir mais longe e deixar um otimismo infundado tomar as redias da nossa razao porque ai', ai' e' que aquela "certeza" de que podemos forcar o mundo a pensar que o nosso estilo de vida e' moralmente superior, dando a deixa pruma ideia muito mais macabra de querer ser a "Policia do Mundo", qualidade que podemos facilmente detectar nos nossos visinhos da America do Norte.

Entao me pergunto: quando podemos permitir moral, politica e legalmente a intervencao de um ou mais paises na politica domestica de outro?
Certamente se tivessemos interferido, digamos, na Alemanha de 1937/38 e em Rwanda dos anos 90, nao teriamos tido tantas mortes brutais e desnecessarias.
Mas permitindo a nocao intervencionista sem maiores debates, seremos absolutemente impotentes face a um pais poderoso que interfere na politica domestica de outro(s), visando nao o lado moral de um problema, mas o lucro atraves do roubo dos recursos naturais e mais poder.

Ah, espera...isso ja' esta' acontecendo...eu sempre me esqueco.

Merda, acho que tomei muito cafe'.

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