Cotidiano de uma brasileira em Paris, comentarios sobre cultura, politica e besteiras em geral. Entre le faible et le fort c'est la liberté qui opprime et la loi qui libère." Jean-Jacques Rousseau

Monday, May 17, 2004

Depois eu te Comunico

No Brasil, quando vamos `a casa de alguem, temos o habito de telefonar antes e falar: Oi fulano! Tudo bem? Olha, to com saudade, posso da' uma passadinha ai pra gente bater um papinho, dar milho aos pombos, etc?
Com a excecao dos cariocas, acho que isso e' bem normal no pais todo, nao?
E sempre quando pensamos em regras da sociedade, etiqueta, "modos" como diria minha avo' querida, a ultima palavra no assunto, os 'experts', na nossa concepcao, sao os europeus em geral.

Entao por que e' que eu so' conheco aqui gente cujos "modos" deixam muito a desejar, comparando ate' com uma amiga minha que morava numa das partes menos privilegiadas do Ipiranga perto do Heliopolis? Ela sempre me falava quando ia aparecer, nunca chegou na minha casa do nada, principalmente na hora do almoco/jantar.

Pois bem, um de meus "parentes" adquiridos pos-casorio daria cabelos branquissimos e altos pes de galinha `a Carminha Mairinque Veiga.
Nao so' aparece sem avisar nos horarios mais impertinentes como marca de nos encontrar num determinado local e nao pinta.
A mais recente "peripecia" desta tao charmosa figura foi: Nos convidou pra ir ate' seu apartamento pra assistirmos um filme, tomar uma 1664 geladinha, e bater um papo. Otimo. Aceitamos. Quarta-feira entao, `as 19hrs? Ta combinado.
Quarta chegou. A gente ainda nao tinha 'batido um rango da Malasia' como diria um de meus ilustres conhecidos, entao fiz um papinho rapido mas mesmo assim achei que iriamos chegar atrasados. O que faz entao esta sua interlocutora? -- sim! Peguei o telefone -- aparelho muito util -- e liguei pra figura pra comunicar que iriamos atrasar tipo 10 minutos.
O telefone toca e ninguem atende. Penso entao -- deve ter saido pra comprar algo de ultima hora! Entao ligo no celular -- outra coisa muito util que MUITA gente tem -- e descubro que a figura esta' a caminho da casa de um outro amigo!! "Eu ia ligar pra voces..." -- eu: "Ah e', quando? Quando ja' estivessemos na sua casa, batendo na porta?"
Se eu nao tivesse tido o bom tom de ligar e dizer "Po, desculpa, a gente vai atrasar" iria ter subido 6 andares `a pe', porque no predio da figura nao tem elevador, completamente em vao.

Esse e' apenas um exemplo dentre no minimo 28,5 que posso dar...
Eu queria mesmo saber onde nos brasileiros aprendemos a ser tao bem educados e a ter tanta consideracao social com as pessoas. Logico, a educacao coletiva e' uma verdadeira piada, basta ver briga em fila que ja' sabemos a nacionalidade do furao, mas pra sensibilidade, modos e etiqueta social nos somos, mais uma vez, os melhores que ja' tive a oportunidade de observar.

No proximo blog: Tese: Porque os americanos nao usam guardanapo de papel pra comer um sandwich?

Saturday, May 15, 2004

James Michie 



1927 - 2007

Dooley is a Traitor



'So then you won't fight?'
'Yes, your Honour,' I said, 'that's right.'
'Now is it that you simply aren't willing,
Or have you a fundamental objection to killing?'
Says the judge, blowing his nose
And making his words stand to attention in long rows.
I stand to attention too, but with half a grin
(In my time I've done a good many in).
'No objection at all, sir,' I said.
'There's a deal of the world I'd rather see dead --
Such as Johnny Stubbs or Fred Settle or my last landlord, Mr Syme.
Give me a gun and your blessing, your Honour, and I'll be killing them
all the time.
But my conscience says a clear no
To killing a crowd of gentlemen I don't know.
Why, I'd as soon think of killing a worshipful judge,
High-court, like yourself (against whom, God knows, I've got no
grudge --
So far), as murder a heap of foreign folk.
If you've got no grudge, you've got no joke
To laugh at after.'
Now the words never come flowing
Proper for me till I get the old pipe going.
And just as I was poking
Down baccy, the judge looks up sharp with 'No smoking,
Mr Dooley. We're not fighting this war for fun.
And we want a clearer reason why you refuse to carry a gun.
This war is not a personal feud, it's a fight
Against wrong ideas on behalf of the Right.
Mr Dooley, won't you help to destroy evil ideas?'
'Ah, your Honour, here's
the tragedy,' I said. 'I'm not a man of the mind.
I couldn't find it in my heart to be unkind
To an idea. I wouldn't know one if I saw one. I haven't one of my own.
So I'd best be leaving other people's alone.'
'Indeed,' he sneers at me, 'this defence is
Curious for someone with convictions in two senses.
A criminal invokes conscience to his aid
To support an individual withdrawal from a communal crusade
Sanctioned by God, led by the Church, against a godless, churchless
nation!'
I asked his Honour for a translation.
'You talk of conscience,' he said. 'What do you know of the Christian
creed?'
'Nothing, sir, except what I can read.
That's the most you can hope for from us jail-birds.
I just open the Book here and there and look at the words.
And I find that when the Lord himself misliked an evil notion
He turned it into a pig and drove it squealing over a cliff into the ocean,
And the loony ran away
And lived to think another day.
There was a clean job done and no blood shed!
Everybody happy and forty wicked thoughts drowned dead.
A neat and Christian murder. None of your mad slaughter
Throwing away the brains with the blood and the baby with the
bathwater.
Now I look at the war as a sportsman. It's a matter of choosing
The decentest way of losing.
Heads or tails, losers or winners,
We all lose, we're all damned sinners.
And I'd rather be with the poor cold people at the wall that's shot
Than the bloody guilty devils in the firing-line, in Hell and keeping
hot.'
'But what right, Dooley, what right,' he cried,
'Have you to say the Lord is on your side?'
'That's a dirty crooked question,' back I roared.
'I said not the Lord was on my side, but I was on the side of the Lord.'
Then he was up at me and shouting,
But by and by he calms: 'Now we're not doubting
Your sincerity, Dooley, only your arguments,
Which don't make sense.'
('Hullo,' I thought, 'that's the wrong way round.
I may be skylarking a bit, but my brainpan's sound.')
Then biting his nail and sugaring his words sweet:
'Keep your head, Mr Dooley. Religion is clearly not up your street.
But let me ask you as a plain patriotic fellow
Whether you'd stand there so smug and yellow
If the foe were attacking your own dear sister.'
'I'd knock their brains out, mister,
On the floor,' I said. 'There,' he says kindly, 'I knew you were no
pacifist.
It's your straight duty as a man to enlist.
The enemy is at the door.' You could have downed
Me with a feather. 'Where?' I gasp, looking round.
'Not this door,' he says angered. 'Don't play the clown.
But they're two thousand miles away planning to do us down.
Why, the news is full of the deeds of those murderers and rapers.'
'Your Eminence,' I said, 'my father told me never to believe the papers
But to go by my eyes,
And at two thousand miles the poor things can't tell truth from lies.'
His fearful spectacles glittered like the moon: 'For the last time what
right
Has a man like you to refuse to fight?'
'More right,' I said, 'than you.
You've never murdered a man, so you don't know what is it I won't do.
I've done it in good hot blood, so haven't I the right to make bold
To declare that I shan't do it in cold?'
The judge rises in a great rage
And writes Dooley Is A Traitor in black upon a page
And tells me I must die.
'What, me?' says I.
'If you still won't fight.'
'Well, yes, your Honour,' I said, 'that's right.'


from the Oxford Book of Twentieth Century English Verse

Tuesday, May 11, 2004

Mini maloca em Paris

Os Halles de Paris, uma especie de shopping gigantesco com lojas, umas vinte salas de cinema UGC, uma piscina publica (alias muito legal), restaurantes etc, passara' por uma drastica mudanca. A prefeitura de Paris resolveu depois de muita reclamacao, mudar toda a arquitetura dessa construcao enorme.
As obras, em principio, devem comecar em 2007 e terminar a tempo pras Olimpiadas de 2012. Ja' pensou se as Olimpiadas forem no Rio? Eles vao ficar meio putos... Hmmmm. Ja' que a primeira obra levou 10 anos pra ser terminada, a comunidade parisiense ainda esta' meio indecisa. No entanto, de uma coisa teem certeza: como esta' nao pode ficar.
Infelizmente, esse predio magnifico vai de mal a pior, nao so' no que diz respeito `a construcao em si -- o concreto esta' deteriorando rapidamente -- mas tambem pelo fato de que o local virou quase que um oasis pros traficantes da cidade e a populacao em geral nao se sente segura o bastante pra fazer suas compras numa das dezenas de lojas contidas no complexo.
Eu ja' estive la' varias vezes e tenho que admitir: realmente, sozinha nao iria nem a pau Juvenal, nem de noite, nem de dia, nem em hora nenhuma...
Existem no momento quatro projetos diferentes de arquitetura. Dois dos times de arquitetos sao franceses, um sueco, um holandes. O prefeito de Paris, Sr. Bertrand Delanoe, disse que nenhum dos planos ate' agora serao aceitos como estao -- um pouco demais da conta de maravilhoso pro gosto do prefeito, talvez. Ou entao pq serao muito caros. Um deles propoe um jardim suspenso a 27m de altura. Hmmm.

Bom, de qualquer forma, como esta' ja' e' bonito, mas que eles teem que dar uma limpada geral na area, isso teem.

Segue link com foto dos Halles.

Photos - Paris - Les Halles - color

Monday, May 10, 2004

`A Nossa

Depois de ler o artigo escrito por um tal Larry Rohter publicado no New York Times de ontem, fiquei tao puta dentro da roupa que escrevi uma carta pro editor, ao inves de tirar as calcas pela cabeca, o que na verdade era o que queria fazer.
Quem estiver interessado em ler o artigo em ingles:
www.nytimes.com
cliquem em International e depois Americas. E' o primeiro artigo da pagina.
Mas acho que todo mundo ja' ta' sabendo o que foi escrito. E' sobre o Lula enchendo o carao.
Bom, aqui esta' a carta que escrevi ha' pouco:

To the editor

Dear Sir/Madam,

I am appalled at Mr Larry Rohter's piece - Brazilian Leader's Tippling Becomes National Concern (May 9). For brevity's sake:
1) One would have thought that were Lula indeed an alcoholic, this information would have long been made public by the several politicians running against him in the several times he's run for president since 1984. It is, for this reason alone, not a national concern, for no-one has ever heard this!
2) Perhaps it would be a good idea to base this individual who calls himself a journalist in Brasilia, the capital and political centre since 1960, instead of Rio de Janeiro, so he could at least have an opportunity to observe and try to acquire sources who have a higher chance of being politically well informed, for clearly, he isn't.
3) After Mr Jason Blair's fiasco, one would have thought the NYTimes would be much more careful before printing a story, especially one whose content is offensive, to say the least, and whose veracity is highly dubious.
On a happier note, I am happy to know that Mr George W. Bush hasn't had a drink for eons. As Mr P J O'Rourke would say: "It is a known fact that a man who refuses a glass of wine is an alcoholic."

Cheers!

Sunday, May 9, 2004

Ainda em ritmo de fim de semana

Mas fazendo o aquecimento pro comeco de mais uma semana e todos os imprevistos nela guardados, nao consigo achar nada mais proprio pra preparacao mental e espiritual necessarias pra que tudo corra bem do que o seguinte texto genial por Millôr Fernandes.


PARA MEDITAR

FODA-SE [por Millôr Fernandes]

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!" O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.
É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "pra caralho"?
"Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho . O Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende? No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!"
O "Não, não e não!" é tampouco e nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade. O "Nem fodendo!" é irretorquível e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo: "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "é PHD porra nenhuma!" ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!".
O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os "aspone", "chepone", "repone" e mais recentemente o "prepone" - presidente de porra nenhuma.
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou seu correlato "Pu-ta-que-o-pa-riu!!!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça. E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!". Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!!!

Uma otima semana a todos.

Friday, May 7, 2004

Pra' da' alegria no fim de semana

Calcanhar de Aquiles

Pra que que eu fui lembra' do zoio dele?
Jabuticaba madura coracao cabeca dura
Teima bate ate' que fura
Discunjura e negaceia
feito lobo em lua cheia
Na cadeia desse olhar

Me arrepia, esfria e me da'
Taquicardia, farta de ar
Meu coracao que desce pro calcanha'
de aquiles
Doce suplicio do amor
Faquires
tira o partido da dor

Bate, come, ripinica
feito fome de lumbriga
na barriga da miseria
coracao cabeca veia
me virando do avesso
inventei qualquer pretexto
fui pedi prele volta'

cheguei no predio errei de andar
no elevado um gordo me da'
um pisao no calo que me enxoto de la'
mancano
sei que esse amor vai fica'
sangrano
no peito e no calcanha'
de aquiles
doce suplicio do amor...

Jean Garfunkel/Paulo Garfunkel

Thursday, May 6, 2004

plan metro paris biogassendi.com

A minha estacao e' Ecole Militaire linha 8
Top 5 Mais Mais / Menos Menos

++

5) Parques - Tem tantos! Ate' agora, ja' estive: Champs de Mars (em frente a Torre Eiffel), jardin du Luxembourg (onde fica o Senado), Jardin de Plantes (onde tb ficam o museus de minerologia, entomologia, e uma enorme estufa com arvores tropicais), Parc de Bercy (estilo oriental), Jardin de Bagatelle (fim de maio e junho inteiro as roseiras sao a atracao principal), Bois de Boulogne (parque grande no limite da cidade - ponto das mocas de vida chamada de facil).

4) A proximidade de outras cidades europeias - Quatro horas de carro posso estar em Bruxelas ou Amsterdam, 6 em Londres, Viena ou Genebra (mais ou menos). As cidades mais ao sul como Perpignan (divisa com Espanha) e Marseilles, um pouco mais longe, mas se for de trem so' 3 horas - e os trens sao otimos entao a viagem e' agradavel. Praga, Berlin, Zurich, Milao, Madrid, e outras tb nao estao muito longe, mas essas sao viagens mais longas, nao da' pra fazer so' num fim de semana, senao nao da' pra ver nada.

3) O Metro e transportes publicos em geral - a cada 500m tem uma estacao de metro. Os onibus sao eficientes, limpos, com aquecimento no inverno mas sem ar condicionado no verao, e raramente lotados. O servico e' impecavel, portanto 1,20euro por passagem (ou 10 euros por 10 tickets) nao deixa ninguem indignado.

2) A vida cultural - Sempre tem alguma coisa pra ver. Sem grana? Sem problema. Shows ao vivo em parques de graca, exposicoes de graca, palestras sobre algum livro, festivais de musica e do cinema (geralmente 3 euros) e na pior das hipoteses leiam item numero 5 - sempre tem algo de graca por aqui e de qualidade. Europeu nao curte muito abrir a mao.

1) A arquitetura - Andando sem compromisso, olhando os predios, os monumentos, ate' aonde plantam arvores: tudo e' planejado, tudo e' posto ali de proposito, nao so' pra ser util, mas pra dar prazer. `As margens do Sena podemos fazer caminhadas, porque tem dos dois lados uma pista pra pedestres , ciclistas e rollers (e o rio nao fede). Enquanto Londres foi expandindo meio que sem planejamento por causa do aumento na populacao, Paris foi sempre planejada e continua sendo.

- -

5) Higiene: E' verdade. Tem muitos que passam perfume sem tomar banho, que tomam banho uma vez por semana (ou duas, vai, pra ser justa) e acham que escovar dente nao e' essencial. No verao o metro fede. Podre.

4) Motoristas completamente loucos, sem educacao e sem respeito por sinais de transito. Quando minha tia veio me visitar pela primeira vez, no primeiro dia que saimos juntas, vimos uma batida de carro; dois dias depois, outra. Desde que mudei pra esse AP (ha' 1 ano e meio) vi dois atropelamentos na minha rua - uma rua calma, residencial e curta - um de uma senhora e um de um cachorro.

3) Em frances, nao existe uma palavra pra "barato" -- Adivinha porque.

2) A politica da boa vizinhanca nao e' popular. Nao existe esse negocio de pedir um ovo ou uma xicara de farinha pro seu vizinho, nem tomar um cafezinho juntos, nem nada que um bom vizinho brasileiro acha simplismente normal. Tenho saudade disso.

1) Banheiros: Muita gente vive num apartamento aqui do tamanho de uma caixinha de fosforo e muitos deles sem banheiro dentro do apartamento. Eu conheco duas pessoas que moram num AP sem. Outra coisa bizarra que vi aqui: banheiros eletricos. Vc vai na loja, compra um vaso sanitario de fibra de vidro ou algo parecido e liga na tomada! Achei o cumulo do absurdo.

Wednesday, May 5, 2004

Na esquina da Ipiranga e Sao Joao encontramos Rio40C e...Eurostar*?

Esse mes as cidades de Londres e Paris estarao particularmente ligadas `as nossas Rio-Sampa.

Em Londres, durante todo o mes, uma especie de comemoracao da cultura brasileira estara' acontecendo na loja mundialmente renomada Selfridges situada na Oxford Street, a 5th Avenue londrina. Por 3 libras esterlinas** podera' ser visto mostras do cinema brasileiro (com a presenca de Fernando Meirelles), novos nomes da nossa musica, fotografia, danca, capoeira, e um menu da nossa cuisine de dar inveja a qualquer restaurante por kilo! Vatapa', farofa, moqueca de camarao, bolinho de chuva, batida, sucos das frutas mais estranhas no nordeste -- ate' aquelas que teem gosto de desinfetante (cupuacu) -- espero que os londrinos nao se empolguem muito e decidam que comer um bolinho de chuva logo apos um pratinho de farofa e tomando uma batidinha de coco com morango e' a melhor combinacao do mundo. Haja alka-seltzer! Pra dar um toque especialmente 'autentico', encomendaram e importaram do Brasil uma replica do Cristo Redentor de 12 metros de altura e 2 toneladas de peso, que sera' montada (veio em 5 partes) e transportada pra Selfridges no meio da madrugada.

Seis horas de carro e duas de balsa mais tarde na capital francesa, tambem durante todo o mes de maio, na cripta de uma das catedrais mais bonitas do mundo que foi restaurada por causa do sucesso do Quasimodo, aka o corcunda de Notre-Dame, sera' exibida uma colecao em comemoracao dos 450 anos da cidade de Sao Paulo. O evento sera' aberto pelos prefeitos Delanoe e Marta Suplicy (nao sem bem se essa semana ou a que vem). Entrada franca.

Claro que eu vou na exposicao na Notre-Dame. Ainda nao sei se vai dar pra ir ate' Londres esse mes, mas gostaria de poder ir, e se for, escrevo e conto como foi...

Ha' mais ou menos 3 anos, comecei a perceber um interesse da midia europeia na cultura brasileira e um aumento nos anuncios de agencias de viagem, tanto nas ruas quanto nos jornais, de pacotes pro Brasil. Foz do Iguacu, Nordeste em geral, Pantanal e, claro, Amazonia. Cidade de Deus fez um sucesso louco aqui. Toda hora tem um artigo sobre o Brasil num dos jornais ou revistas. As nossas Legitimas Havaianas sao CHI-QUE'-R-RI-MAS! aqui entre a meninada "in", em qualquer revista feminina podemos encontrar algum artigo que conta os 'segredos de beleza da mulher brasileira'. O 'tipo de socialismo Lula' e' motivo de admiracao, a nossa luta contra a AIDS e os nossos remedios genericos sao internacionalmente aplaudidos, o Paulo Coelho e' adorado (blergh!). Porque entao nao temos ainda um senso REAL e PRESENTE de que somos verdadeiramente foda, o que pega, o bicho, "IT", bom paca, 'da hora', punk, 'irado', bom demais uai!?

A minha vida inteira ouco dizer que o Brasil e' o pais do futuro e concordo, mas esse futuro nunca chegara' se a populacao nao decidir parar de achar que "Bom e' o estrangeiro", arregacar as mangas, colocar seu melhor vestido e se achar O KIBE.

*Eurostar e' o trem Paris-Londres em 3 horas.
**A renda da entrada ira' diretamente pruma instituicao de caridade para criancas e adolescentes Brasileiros menos privilegiados.

CDs bons pra ouvir: Paco de Lucia "Cositas Buenas", Elis Regina "Vento de Maio", Ivan Lins e Chucho Valdez "Live in Cuba", Carla Bruni "Quelq'un m'a dit", John Coltrane "My favorite Things"


Tuesday, May 4, 2004

`A Francesa, please sir

Desde que vi um filme frances pela primeira vez minha impressao das mulheres francesas foi essa: como sao crueis!
O filme em questao era sobre uma mulher jovem, bonita, que trabalha como baba' na casa de uma familia bem classe media alta, mas ela era analfabeta. A outra mulher trabalhava no correio. Elas se tornam amigas, saem juntas, comecam a frequentar a casa uma da outra. Tudo otimo e legal, com cenas delas saindo pra ir ate' uma floresta perto da casa de uma delas pra colher champignons silvestres e tudo mais. Elas sao solitarias entao a amizade entre elas e' o unico verdadeiro contato social que teem.
Um dia, do nada, depois que a mulher do correio descobre que a outra e' analfa, elas decidem ir ate' a casa da familia onde a analfa trabalha, e matam a familia inteira.
Nao conheco nenhuma assassina francesa, nao, nao e' isso.
Mas tenho a impressao de que pelo menos 50% das que eu conheco seriam capazes de um ato cruel. Nao assassinato, nao acho, mas algo cruel.
A falta de empatia e' enorme entre as mulheres aqui; nao vejo a situacao em que eu me tornaria amiga (de verdade) de uma delas (das que eu conheco); sair juntas, bater aquele papo insignificante, etc, tudo bem, mas mais que isso acho que nao daria. E' um ollhar constante que elas parecem ter de que nao aprovam o que esta' sendo dito, nao importa o que seja, e mesmo se aprovassem nao dariam o gostinho de admitir o fato. Schadenfreude nao seria o termo certo, mas tem um pouco disso tambem. Com tudo isso, elas ainda conseguem ser bem mais quentes, mesmo que seja so' aparentemente, do que as inglesas.


A simpatia que tenho pelos franceses talvez venha do fatos que sao tambem latinos e o dia-a-dia aqui e' bem parecido com o brasileiro: comprar pao fresco todo dia `a pe' na padaria da esquina (o que nao se faz em paises anglos), o cafezinho, a feira livre, o mercadinho de bairro. Ai' tem tambem o senso de moda, a arquitetura, e talvez o fator mais importante: nao dao ao pragmatismo um valor exagerado.
Os debates estritamente intelectuais e nao pragmatistas sao super comuns aqui, o que nao acontece na Inglaterra - excluindo as cidades universitarias Oxford, Cambridge. Ninguem acha que debater por debater e' uma perda de tempo - claro, existem as excecoes mas ate' agora nao conheci nenhuma. A velha ideia de que a viagem e' mais importante que a destinacao, talvez...

Sendo um pais Catolico, a capacidade de se 'autorizar' prazeres e' muito maior. Um copinho de vinho com a refeicao num dia de semana (!) impensavel para os ingleses protestantes (e ate' mesmo alguns catolicos). A imcompreensao quando alguem se diz vegetariano. Nao, nao entendem mesmo porque alguem se privaria dos prazeres da carne, literalmente, enquanto em restaurantes na Inglaterra se nao tiver pelo menos duas opcoes vegetarianas pode ter certeza que o negocio nao vai pra frente...
Esses pequenos detalhes sao divertidissimos e num continente pequeno como a Europa, eles sao ainda mais visiveis entre uma cidade e outra, dentro do mesmo pais, entao entre paises a diferenca e' tao grande que diria que ate' comeco a entender porque os ingleses nao se consideram europeus.

Monday, May 3, 2004

Uh, meu teclado e' anglo, por isso nao tenho acentos...sorry.

Ah e'. Fim de semana. Sabado fomos ao Jardin de Plantes que se situa no sexto distrito da cidade, onde fica tambem o Quartier Latin. A primavera ja' comecou e os jardins estao absolutamente cheios de flores. Flores que nao conhecia, cujo os nomes sempre me foram familiares mas que nunca tive a oportunidade de os ligar ao visual. A causa dessa ignorancia que me pegou de surpresa e' muito simples: a minha nao e' uma cultura que festeja a mudanca de estacoes do ano, simplesmente porque nao as temos. Nao dessa maneira; presente, importante, com uma influencia no nosso humor, pensamentos, sentimentos, estado de espirito. `As vezes, ate mesmo a nossa inteligencia parece ser afetada por esse inverno duro, longo e impiedoso.
Pode parecer romantica essa opiniao, mas a cada nova primavera eu me dou conta de que e' apenas a realidade.
Aproveitando o dia ensolarado e -- pelo parametro europeu -- quente, saimos do Jardin de Plantes e decidimos ir direto a outro parque (de Bercy) dessa cidade que engana o nosso senso de dimensao, parecendo, ao mesmo tempo, pequena (pelo tamanho dos apartamentos, ruas, mesas de restaurantes, lojas, etc) e impossivelmente grande; pois numa cidadezinha pequena nao seria possivel ter essa quantidade de parques enormes.

Voltamos pra casa por volta das 6 da tarde, absolutamente exaustos apos termos andado aproximadamente 8 quilometros, com sede, com fome, suados, mas com a sensacao inigualavel de que algo de otimo foi visto/feito/vivido.

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Apos uma chuveirada rapida, um lanchinho e um cafezinho (brasileiro), fomos convidados `a casa de um dos primos do Julian, o Ludovic. Ele sempre vem aqui em casa porque ele mora num apartamento de 10 metros quadrados ou, para os sem senso de dimensao como eu, mais ou menos do tamanho da maior parte dos banheiros residenciais brasileiros.
O motivo da visita nao foi o de sempre, ou seja, bater um papo, tomar um drink, jogar xadrez ou outro jogo, etc. Acontece que Ludovic recentemente leu um livro chamado "Uma estacao de machadinhas" - "Une saison des machettes" Jean Hatzfeld - (desculpem-me pela traducao literal, mas eu nao sei o titulo em portugues) sobre o massacre em Rwanda nos anos 90.
Ele queria ler pra nos e para seu irmao Etienne, trechos desse livro, alem de trechos de um outro livro sobre o holocausto escrito por Primo Levi e, finalmente, uma carta escrita por ele, Ludovic, a ser enviada a um amigo dele, quem indicou o livro sobre o genocidio em Rwanda. Como ele ainda nao havia terminado a tal carta, so' leu alguns trechos, mas foi o suficiente pra concluir que ele tracou um paralelo entre o genocidio africano e o judeu.
Entre uma interrupcao e outra pude perceber que ele, como a maior parte dos franceses com quem tive contato ate' agora, sente um tipo de culpa sobre o que houve nao so' nas antigas colonias, mas tambem pela ocupacao Nazi da Franca durante a 2a. guerra.
Como nao tivemos tempo suficiente pra discutir o assunto a fundo porque tinhamos que sair pra jantar, ele ficou de me mandar via email essa carta quando ele terminar de escreve-la.

Trocando em miudos ele acha que mais deveria ter sido feito pela Franca pra evitar o massacre em Rwanda.

Em principio, nada contra.

Analisando melhor, constato que esse e' o tipo de indignacao da qual nasce um nojo de 'gente', depois uma raiva contra tais atos, seguida por uma tristeza profunda vinda diretamente da lembranca de que somos parte dessa raca ora podre, ora fascinate. Logico que gostaria que esse tipo de barbarie nunca existisse, que fossemos coletivamente bons, e `as vezes ate' acho que somos. O perigoso e' ir mais longe e deixar um otimismo infundado tomar as redias da nossa razao porque ai', ai' e' que aquela "certeza" de que podemos forcar o mundo a pensar que o nosso estilo de vida e' moralmente superior, dando a deixa pruma ideia muito mais macabra de querer ser a "Policia do Mundo", qualidade que podemos facilmente detectar nos nossos visinhos da America do Norte.

Entao me pergunto: quando podemos permitir moral, politica e legalmente a intervencao de um ou mais paises na politica domestica de outro?
Certamente se tivessemos interferido, digamos, na Alemanha de 1937/38 e em Rwanda dos anos 90, nao teriamos tido tantas mortes brutais e desnecessarias.
Mas permitindo a nocao intervencionista sem maiores debates, seremos absolutemente impotentes face a um pais poderoso que interfere na politica domestica de outro(s), visando nao o lado moral de um problema, mas o lucro atraves do roubo dos recursos naturais e mais poder.

Ah, espera...isso ja' esta' acontecendo...eu sempre me esqueco.

Merda, acho que tomei muito cafe'.
Ah, que beleza. Acabo de criar meu proprio Blog. Virei adulto!!