Cotidiano de uma brasileira em Paris, comentarios sobre cultura, politica e besteiras em geral. Entre le faible et le fort c'est la liberté qui opprime et la loi qui libère." Jean-Jacques Rousseau

Tuesday, May 4, 2004

`A Francesa, please sir

Desde que vi um filme frances pela primeira vez minha impressao das mulheres francesas foi essa: como sao crueis!
O filme em questao era sobre uma mulher jovem, bonita, que trabalha como baba' na casa de uma familia bem classe media alta, mas ela era analfabeta. A outra mulher trabalhava no correio. Elas se tornam amigas, saem juntas, comecam a frequentar a casa uma da outra. Tudo otimo e legal, com cenas delas saindo pra ir ate' uma floresta perto da casa de uma delas pra colher champignons silvestres e tudo mais. Elas sao solitarias entao a amizade entre elas e' o unico verdadeiro contato social que teem.
Um dia, do nada, depois que a mulher do correio descobre que a outra e' analfa, elas decidem ir ate' a casa da familia onde a analfa trabalha, e matam a familia inteira.
Nao conheco nenhuma assassina francesa, nao, nao e' isso.
Mas tenho a impressao de que pelo menos 50% das que eu conheco seriam capazes de um ato cruel. Nao assassinato, nao acho, mas algo cruel.
A falta de empatia e' enorme entre as mulheres aqui; nao vejo a situacao em que eu me tornaria amiga (de verdade) de uma delas (das que eu conheco); sair juntas, bater aquele papo insignificante, etc, tudo bem, mas mais que isso acho que nao daria. E' um ollhar constante que elas parecem ter de que nao aprovam o que esta' sendo dito, nao importa o que seja, e mesmo se aprovassem nao dariam o gostinho de admitir o fato. Schadenfreude nao seria o termo certo, mas tem um pouco disso tambem. Com tudo isso, elas ainda conseguem ser bem mais quentes, mesmo que seja so' aparentemente, do que as inglesas.


A simpatia que tenho pelos franceses talvez venha do fatos que sao tambem latinos e o dia-a-dia aqui e' bem parecido com o brasileiro: comprar pao fresco todo dia `a pe' na padaria da esquina (o que nao se faz em paises anglos), o cafezinho, a feira livre, o mercadinho de bairro. Ai' tem tambem o senso de moda, a arquitetura, e talvez o fator mais importante: nao dao ao pragmatismo um valor exagerado.
Os debates estritamente intelectuais e nao pragmatistas sao super comuns aqui, o que nao acontece na Inglaterra - excluindo as cidades universitarias Oxford, Cambridge. Ninguem acha que debater por debater e' uma perda de tempo - claro, existem as excecoes mas ate' agora nao conheci nenhuma. A velha ideia de que a viagem e' mais importante que a destinacao, talvez...

Sendo um pais Catolico, a capacidade de se 'autorizar' prazeres e' muito maior. Um copinho de vinho com a refeicao num dia de semana (!) impensavel para os ingleses protestantes (e ate' mesmo alguns catolicos). A imcompreensao quando alguem se diz vegetariano. Nao, nao entendem mesmo porque alguem se privaria dos prazeres da carne, literalmente, enquanto em restaurantes na Inglaterra se nao tiver pelo menos duas opcoes vegetarianas pode ter certeza que o negocio nao vai pra frente...
Esses pequenos detalhes sao divertidissimos e num continente pequeno como a Europa, eles sao ainda mais visiveis entre uma cidade e outra, dentro do mesmo pais, entao entre paises a diferenca e' tao grande que diria que ate' comeco a entender porque os ingleses nao se consideram europeus.

No comments: