Cotidiano de uma brasileira em Paris, comentarios sobre cultura, politica e besteiras em geral. Entre le faible et le fort c'est la liberté qui opprime et la loi qui libère." Jean-Jacques Rousseau

Wednesday, November 4, 2009


Ha' tanto tempo não escrevo, principalmente em português, que nem sei mais se ainda sei como.
Talvez a escrita seja como andar de bicicleta, como diz o Outro. Mas como consegui esquecer como andar de bicicleta, me pergunto se tudo em mim não segue esta mesma regra.

Esta semana foi boa: tenho podido ler por prazer novamente, apos um longo periodo durante o qual estive ocupada estudando, e, por isso, so' podia ler por "obrigação", embora esta tenha sido auto-infligida.

O engraçado - não engraçado de morrer de rir mas de sorrir - é que nesse ultimo ano (de estudo mas também de reflexão) pude me dar conta de varias coisas.
Primeiro, a visão do mundo mais prevalente, ou de qualquer maneira mais politica e socialmente aceitaveis pela pequena burguesia européia, não é a visão do mundo que tenho hoje, do alto dos meus trinta e um anos. Isso pode não ser novidade para a maior parte das pessoas, mas é pra mim. Em termos menos vagos o que quero dizer é simples: a "ditadura" do politicamente correto esta' matando (ou ja' matou?) a verdadeira Esquerda. A tradicional. A que, historicamente, se opôs às opressões diversas impostas à maioria dos habitantes do planeta. Hoje, essa Esquerda se transformou (ou, de qualquer maneira a Esquerda européia e atlantista-- ou seria isso um oximoro?) numa espécie de lama meio morna, morna como As Revelações do Apocalipse nos diz deplorar. Uma tepidez destrutiva de toda e qualquer esperança e confiança no progresso que, segundo eu, tem suas raizes firmes no século XIX (a tepidez!), época durante a qual ser ligeiramente deprimido, auto-centrado e com ares de desespero sutil eram sinais de avant-guardismo intelectual e possivelmente de talento artistico.

Mas vamos ao mais concreto. Porque sera' que as pessoas aqui conversam como se estivessem na televisão, sendo assistidas por milhões e por isso não podem "tropeçar" em nada. Não se pode nunca dizer algo que possa ser caracterizado de racista, antisemita, misogino (coloque acento agudo no primeiro o, por favor) etc etc. E tudo isso ao nome da liberdade de expressão. Porém não para por ai ! Essa "ditadura" ataca tudo: o jornalismo, as artes, as "noticias", o humor, as eleições, tudo ! Quando um comediante tira sarro de um bando de "neguinho" suburbano não tem problema; sabemos o quanto essa categoria étnica gosta da auto-derisão. Agora quando se trata de ridiculizar os colonos Israelitas ilegais que diariamente usurpam a terra de um povo que morava la' ha' séculos, todo mundo grita: antisemita ! Como se a dinstinção entre antisemita e antisionista nunca tivesse sido debatida, decodificada, descascada e demonstrada por qualquer bobão tomando uma breja no boteco da praça da igreja.

"A televisão me deixou burro, muito burro demais", como um dia disse Arnaldo Antunes.
Ela fala conosco como se fôssemos um tipo de animal pouco desenvolvido, incapazes de perceber que ninguém no mundo real deveria deixar seu discurso, sua retorica (sim, porque o que além da retorica importa realmente?) ser tão porcamente contaminada pelo que uma duzia de imbecis que se dizem editores e jornalistas decidiram o que se deve e o que não se deve poder ser dito em publico !
Quer dizer que o sistema funciona assim: precisamos de cada vez mais canais de televisão, jornais, revistas, etc etc para que cada vez mais so' UMA mensagem seja propagada; lutamos por essa tal liberdade de expressão para que, ao atingirmos o estagio avançado de democracia que existe hoje na Europa nos E.U.A. (!) possamos, sem que ninguém nos force com um três-oitão na têmpora, abrir mão do direito de poder dizer o que pensamos sobre as coisas mundanas (e menos mundanas também!)
Sim, porque no termo "auto-censura" tem a palavra censura. Não interessa que não tenha sido um orgão institucional que tenha nos ensinado a "dobrar a lingua". Não falo aqui de intrigas pessoais bestas, de fofoca, etc, mas de topicos importantes como a imigração, o conceito de raça e de etnia, a idéia de comunidade, de integração, coisas às quais nunca precisei pensar quando morava no Brasil.

2009 foi o Ano da França no Brasil. Sera' que eles vão ter recarregado suas baterias republicanas (não monarquicas) enquanto estavam no nosso grande pais que tem muito à ensinar ao mundo ? Mais sobre este tema no futuro.

Abraços republicanos e revolucionarios !



1 comment:

Carl Johnson said...

Hasta la victoria siempre